ILÍDIO MARTINS
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SARAMAGO E EU
© Ilídio Martins/Luso-Americano
9 de Dezembro de 1998

Descontando alguns artigos dispersos pelos jornais, tudo o que li até hoje de José Saramago resume-se a meia dúzia de páginas do Memorial do Convento e a outras tantas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Apesar de o primeiro título ser geralmente considerado como o mais relevante no conjunto da obra e de o segundo abordar um tema que me é particularmente interessante, a verdade é que, das três ou quatro vezes que tentei ler um e outro, acabei por perder a paciência e achar por mais bem empregue o tempo a ler coisas que me pareceram mais interessantes. A recente atribuição do Nobel ao escritor português e a vontade de dizer em público o que eu penso em privado justificou, de novo, mais uma tentativa, mas confesso que a minha opinião não se alterou. E não se alterou porque continuo a embirrar com as vírgulas postas a eito ou com a ausência delas nos sítios mais inesperados, destruindo precisamente a tal musicalidade de que o autor fala e que, para mim, é essencial. Concordo quando o escritor diz que "falar é a mesma coisa que fazer música" e que "escrever também o pode ser". Só que, na prática, e por causa das vírgulas, a escrita de Saramago ilustra precisamente o contrário. Mas não me atrevo a dizer que o autor não sabe pôr as vírgulas, como muito boa gente diz por aí, embora não me pareça que a pontuação esteja "marcada pelo uso da oralidade", como diz o professor Carlos Reis e o próprio Saramago. Se assim é, soa-me demasiado abstrusa como oralidade e pior ainda quando usada num texto literário.

Mas não se pense que eu não fiquei contente com a atribuição do Nobel a Saramago, embora me pareça que ele estaria em melhores mãos se tivesse sido entregue a José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner ou Herberto Helder, este último até pela curiosidade de saber se aceitaria ou não. Afinal, o Prémio Nobel da Literatura, por mais que se diga que ninguém percebe os critérios do júri e que existem manobras mais ou menos obscuras por trás da atribuição do galardão, com sucessivos laureados a deixarem meio mundo de boca aberta, continua a ser o maior prémio das letras. E isso não pode deixar de ser motivo de regozijo para os portugueses, amantes das letras ou não, habituados que estamos a estar na cauda praticamente de tudo. Se o prémio só a ele pertence, e não a todo um país ou uma língua (como erradamente se chegou a dizer), também eu, mesmo não sendo um grande entusiasta da obra, senti a mesma alegria que muitos sentiriam se, por obra e graça de sabe-se lá quem, Portugal ganhasse o Mundial de Futebol. Daí que tenha achado de mau gosto algumas reacções que se ouviram por aí, porventura por dor de cotovelo, que manifestaram o seu desagrado não por acharem a obra desinteressante mas porque não gostam do homem. À cabeça esteve, como já é hábito, a Igreja Católica, cuja reacção ao seu mais alto nível, poucas horas após ser conhecido o nome do laureado, me parece pecar por excesso de zelo se comparada com inúmeras situações em que a mesma Igreja Católica optou por um prudente silêncio. Parafraseando o frei Bento Domingues, a reacção do Vaticano foi, de facto, "risível", obrigando a própria Igreja Católica portuguesa, através de alguns dos seus mais altíssimos representantes, a demarcar-se claramente da postura de Roma. Tal como tantas outras vezes, o Vaticano perdeu uma vez mais uma soberana ocasião de estar calado, evitando assim mais um tiro no seu próprio pé e poupando aqueles que, nas suas hostes, conseguem ver mais do que dois palmos à sua frente.

É óbvio que um prémio literário, mesmo o maior prémio literário, não acrescenta nem retira nada à obra de ninguém. Como o próprio Saramago disse, no ano passado, "a única coisa que muda é a conta bancária de quem o ganhou". Também não acredito que o Nobel aumente o prestígio de uma literatura, tenha ela a expressão que tiver. Quando muito ele dá mais visibilidade a um escritor ou outro, um dinheirito mesmo a calhar a quem, por regra, não nada nele, e, claro, os tais 15 minutos de fama. Quanto à literatura, do premiado ou dos outros, fica tudo na mesma. Os melómanos vão continuar a ler aquilo que acham interessante ler, os curiosos vão aproveitar a onda para se enfiarem de cabeça numa obra ou outra do laureado e acabam por sucumbir de tédio à terceira página, e os outros, cuja definição prefiro deixar ao critério do leitor, aproveitam para adquirir umas obras completas do autor, de preferência em papel do melhor, que depois colocam nas estantes ao lado dos Mozarts e doutras maçadas do género. Tudo normal, portanto. O que não me parece muito normal é a popularidade de Saramago, especialmente em Portugal, já que eu suspeito que as obras publicadas no estrangeiro foram, devido às traduções, bastante melhoradas. De facto, espanta-me que um escritor como este consiga vender tanto dentro do seu próprio país, já que Saramago utiliza um estilo muito próprio e é militante de um partido político que, queiramos ou não, faz com que muita gente se afaste da sua obra. Espanta-me, por último, quando se afirma que Saramago é o "maior escritor ibérico do século" e pasmo quando alguém diz que ele é "um dos maiores escritores de língua portuguesa de todos os tempos". São opiniões como quaisquer outras, evidentemente, mas, francamente, não exageremos.

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